Uma mulher tetraplégica foi capaz de pegar uma garrafinha térmica e
beber café quentinho sem a ajuda de nenhuma pessoa. Os responsáveis pela
façanha foram uma equipe internacional de cientistas que conectou
eletrodos inseridos em seu córtex motor - parte cerebral responsável
pelos movimentos voluntários - a um computador e um braço mecânico. Pela
primeira vez em 15 anos, a paciente, conhecida no estudo como S3,
conseguiu beber café usando seus próprios sinais neurais para fazer o
movimento.
Quando uma pessoa quer se movimentar, ela libera um fluxo de sinais
elétricos do cérebro para a medula espinhal. Interrupções nestas vias
nervosas impossibilitam a passagem dos sinais elétricos, o que causa a
paralisia.
Os testes do braço mecânico controlado pelo pensamento foram feitos com
dois pacientes que sofreram AVC há mais de 10 anos. Eles também têm a
chamada síndrome do encarceramento, no qual o paciente não consegue
mover os membros nem falar, e se comunica apenas por piscadas de olho
que indicam as letras de uma palavra ou frase que querem informar. Os
resultados do estudo foram divulgados no periódico científico Nature.
Pesquisadores americanos e alemães implantaram um conjunto de 96
eletrodos do tamanho de uma aspirina no córtex motor, no topo da cabeça
dos voluntários. Os sinais cerebrais iam para um computador que
decodificava os algoritmos e levava até o braço mecânico. O equipamento
recebeu o nome de BrainGate2.
Veja o vídeo da paciente com paralisia comandando braço robótico com o pensamento
"Eu penso em movimentar a minha mão e o meu punho. É muito confortável e
natural imaginar minha mão direita se movendo para a direção que eu
quero que o braço robótico se mova", contou Cathy Hutchinson, de 58
anos. Ela usou os olhos para indicar as letras de seu relato divulgado à
imprensa. A atividade também não exige concentração excessiva. De
acordo com a paciente, ela não fez nada além do que estava acostumada a
coordenar pelos pensamentos antes de perder os movimentos. "No início
tive que me concentrar e focar os músculos que usaria para executar
determinadas funções".
Robert, o outro paciente que participou do experimento também informou
que não teve dificuldade de comandar o braço robótico pelo pensamento.
"Eu só imaginei que estava mexendo o meu próprio braço e o braço
mecânico foi para onde eu queria que ele fosse", anunciou o homem de 66
anos.
Os pesquisadores ficaram entusiasmados com o fato mesmo depois de anos
de paralisia, o córtex motor dos dois pacientes continuou funcionando,
sendo capaz de liberar sinais neurais.
Interação cérebro-máquina
Os sinais neurais enviados pelos pacientes foram interpretados por um
computador do tamanho de uma geladeira, que é conectado ao braço
robótico e aos eletrodos. Os pesquisadores destacaram que para cada
indivíduo eles construíram um novo decodificador. "Cada neurônio é uma
espécie de torre transmissão de rádio e tem centenas de sensores. Há um
padrão comum para os movimentos, mas muda muito o conjunto de sinais
dados por cada indivíduo para fazer cada movimento", disse John
Donoghue, neurocientista da Universidade de Brown e pioneiro no
desenvolvimento do BrainGate, há mais de uma década.
Para habilitar os computadores a interpretar os sinais neurais
corretamente, Robert imaginou controlar o braço do robô, enquanto
observava movimentos pré-programados. A atividade cerebral
correspondente foi gravada e usada para construir um mapa entre os
padrões de sinais do cérebro de Robert e as atividades realizadas pelo
robô.
O equipamento ainda precisa passar por uma série de testes até que seja
aprovado. Há ainda a questão financeira para comercializá-lo. "Eu
acredito que seja questão de anos, menos de uma década que vamos
conseguir comercializá-los", disse Leigh Hochberg, neurologista da Brown
Universidade.
Fonte: http://sentidos.uol.com.br/canais/materia.asp?codpag=13855&canal=cientifico
quarta-feira, 23 de maio de 2012
Tecnologia permite tetraplégicos comandar braço robótico pelo pensamento
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