No lugar das sapatilhas, rodas. No lugar dos pés firmes e seguros, uma
bengala. No lugar dos olhos atentos à expressão do corpo, uma venda e a
escuridão. Na tarde desta terça-feira (24/7), os adereços que compõem o
figurino e a rotina dos bailarinos foram substituídos por uma palavra
estranha a muitos deles: acessibilidade. “Nós não somos físico. Somos
realização”, sentenciou o arquiteto especialista na área, Mário Cezar da
Silveira.
Os participantes da oficina “Outros Olhares sobre o Corpo”, oferecida
pelo Comitê Gestor Cidade Acessível é Direitos Humanos, com o apoio do
Instituto Festival de Dança e do Conselho Municipal da Pessoa com
Deficiência (Comde), conheceram um mundo diferente, mas não impossível.
Nas palavras de Mário, surgiram incentivos para que o corpo seja
valorizado nas suas qualidades, defeitos e particularidades. Nos vídeos
exibidos na oficina, um espaço para o "diferente": bailarinos sobre
cadeiras de rodas, bailarinas surdas, com deficiência visual ou síndrome
de Down, todas exercitando a arte de forma plena. “A arte não nasce no
corpo, mas na capacidade criativa do ser humano”, explicou Mário.
Além do conhecimento teórico sobre o assunto, os participantes da
oficina sentiram na pele um pouco da rotina das pessoas com deficiência.
O medo ficou escondido. A curiosidade e a superação foram incorporadas
como instrumentos de trabalho. “Eu precisava disso para aprender a me
desafiar ainda mais”, revelou a bailarina do grupo Balé Cidade de
Taubaté, Gabriela Valéria Vieira, de 18 anos.
Gabriela foi a primeira a escolher a sua “deficiência”. Quis ser cega.
Com uma venda e uma bengala, percorreu o Centreventos e chegou à Feira
da Sapatilha vigiada por olhares atentos e cuidadosos, mas percorrendo o
próprio caminho, sem ser amparada ou guiada. “No grupo do qual faço
parte já tínhamos feito uma dinâmica de dançar de olhos fechados e eu
tive bastante dificuldade. Cheguei a me emocionar”, conta.
Para ela, a oficina de acessibilidade foi um momento de inspiração. “Tem
dias que eu esqueço de me desafiar. Hoje, escolhi ser cega porque achei
que era o mais difícil”, disse. Outros bailarinos mergulharam no mundo
dos cadeirantes: seja daqueles que usam a cadeira manual ou a elétrica. O
andador para idosos também foi um equipamento disponibilizado na
oficina.
Depois da experiência, o grupo foi desafiado a improvisar uma
coreografia, ensaiada próximo ao palco da Feira da Sapatilha. “Temos que
aprender a valorizar o corpo com as qualidades e os defeitos que ele
tem. Até porque, são os nossos defeitos e limitações que nos fazem
melhorar. Nosso maior desafio é acabar com estigmas: deixar de enxergar
limitações para enxergar potencialidade”, concluiu Mário.
Fonte: SECOM
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